sábado, 8 de novembro de 2014

Maria Antonieta ,retrato de uma mulher comum

Este foi o título que Stefan Zweig deu à sua biografia da rainha da França,a última do Antigo Regime;escrita em 1932 ,ou seja,no século passado,por um homem daquela cultura imensa que quase não existem mais,no período entre guerras ,numa Europa bastante tumultuada.




Já começa interessante pela capa desta edição da Zahar,novinha em folha,com prefácio e pósfácio de Alberto Dines  um dos grandes jornalistas/escritores que temos ainda na ativa.Não há um rosto,uma figura,só o detalhe do colo,um cacho do cabelo enfeitado,mais nada.Convida a pensar "quem é/foi".
Por que uma rainha seria caracterizada como "mulher comum"?Esta figura,uma menina alegre,cativante,casada aos 14 anos,rainha aos 19,teve desde o nascimento uma alta condição,não precisando se preocupar com outra coisa a não ser ela mesma e foi esse seu "jeito" que a colocou como alvo de intrigas,numa corte decadente,num momento em que as forças sociais mudavam radicalmente .Linda,muito jovem e sem preocupações o que faria a não ser viver  e intensamente sua juventude?Talvez "reinar",mas este não era um papel destinado à ela.Ser mãe e gerar os herdeiros do trono?Demorou e muito.Seu casamento só foi consumado 7 anos depois  da cerimônias,seu marido,ah coitada,um bonachão,tímido e atrapalhado que até pra isso teve dificuldade,filho caçula que sobrou herdeiro da coroa depois que seus irmãos e pais foram levados pela varíola.
Diz no começo que ,não fossem os tempos,teriam vivido muito bem,sua vida "normal" de realeza.Mas no ,meio do turbilhão que foi o último terço do sèc XVIII,não estavam nem um pouco preparados para  o que aconteceria.


Atropelados pela Revolução,presos,aviltados,as grandes diferenças começam a aparecer.Ele,Louis XVI mantem-se o mesmo, e ela cresce,atinge o ápice no fim.Uma tola-trágica no dizer do Dines ,uma mulher reconhecendo seus erros e tomando a dianteira de sua vida,mesmo quando esta está previamente condenada.

É uma leitura inteira,não melodramática,um texto historiado,não factual.Elogiado por ninguém menos que Sigmund Freud,entre outros(o posfácio fala da composição do livro e sua recepção,mais um atrativo para o livro).502 páginas,mas uma leitura fluída,aplausos para a tradução.

E por quê Marie Antoinette neste séc XXI??Ela foi uma  das ou senão a primeira figura pública a sofrer de um massacre midiático intenso durante anos -coisa comum atualmente,tornando-se mais uma caricatura,sem humanidade,que Zweig consegue resgatar,escapando das falsa fontes e se aprofundando no que captou da   pessoa.


E quem quiser saber um pouco do autor,que acho uma outra figura trágica(fugiu dos nazistas e acabou se suicidando aqui no Brasil em 1942),tem um filme do Silvio Back,Lost Zweig,que eu também recomendo,apesar de toda a melancolia que carrega.





E por falar em filme,eu perdi Maria Antonieta da Sofia Coppolla,mas tenho o de 1938 que foi baseado nesta biografia(soube disso agora) e que tem o Tyrone Power(lindo!)fazendo o Axel Fersen , o Homem de verdade na vida da rainha.
Sim,eu adoro ligações com o tempo,sua amplitude ,este vai e vem que nunca termina  e tudo que possa mostrar  momentos significativos e suas representações!




PS;minha leitura anterior tinha sido La pyramide de glâce do Jean François Parot,roman historique mostrando exatamente um  desses complôs envolvendo a imagem da Marie Antoinette,tenebroso em mostrar as "forças ocultas" que agiam dentro da própria nobreza e que a enfraqueceram,antes de qualquer mudança exterior.É o 12° da série do Nicholas Le Floch e pra quem lê em francês eu também recomendo,são bárbaros.

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