segunda-feira, 20 de março de 2017

O santo sujo - a vida de Jayme Ovalle (Biografia)

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Pra "limpar o dial" eu gosto de umas não ficções entre as "literaturas" e escolhi esta biografia(adquirida num dos bota-fora CosacNaify que a Amazon fez no começo do ano) que estava numa listinha antiga de livros para ler.
É uma edição bonita,de capa dura,papel beginho,recheada de fotos.Pesada para quem está segurando o kindle mais que livros,ultimamente.


Mas:quem foi Jayme Ovalle?Era um dos da turma do Manuel Bandeira,Vinicius de Morais,Gilberto Freyre entre outros, no Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XX .Artista que como muitos deles veio de outros estados, foi funcionário público para se manter enquanto a arte rolava em paralelo.Mas,o que ficou da produção dele?Muito pouco,algumas músicas.Mas,qual o interesse,então?Bem,é pela pessoa e pelas interações que criou,um "amigo" de muitos e influenciador ,sendo que ,além dos já citados,Carlos Drummond de Andrade,Otto Lara Resende,Fernando Sabino e Mário de Andrade fizeram parte dos seus círculos de atividade,que incluía além dos escritores,o mundo da música(foi contemporâneo de Pixinguinha) onde o samba aparecia e as "expressões brasileiras se faziam valer;fora as relações de parentesco que vão se estabelecendo (até a Isabel do vôlei é citada com descendente de um dos "caras" da turma).

O mais gostoso do livro,a meu ver,foi a forma que o autor,Humberto Werneck,juntou as memórias para estabelecer a biografia.Jayme Ovalle aparece na fala de conhecidos e é personagem da correspondência entre eles.O papel dessa correspondência é vital para a manutenção dessas memórias e Manuel Bandeira aparece como parte primordial para que o trabalho de Jayme Ovalle tenha alguma relevância,por ter sido além de amigo,parceiro em composições e incentivador do talento não muito desenvolvido do camarada.Em suas cartas a Mário de Andrade e no que aparece em várias delas o personagem Ovalle fica bem caracterizado:inteligente apesar da pouca instrução,boêmio,funcionário público exemplar e com idéias meio mirabolantes com a "classificação" que criou para a humanidade em cinco categorias(Gnomonia) ,fora um misticismo católico permeando tudo.Aparece também em crônicas e poemas de vários dos "irmãozinhos" .

Dele diz o poetinha :"Jayme Ovalle é inclassificável.Tudo que pretendia defini-lo numa classificação sumária,fica aquém da realidade complexíssima que tem,no registro civil,o nome de Jayme Ovalle.Pode-se dizer que é músico,que é poeta,que é católico,que é amigo.É isso com efeito,e é muito mais".

E contam-se casos e casos de Ovalle e os amigos, uma  escrita em torno de um personagem,que vitaliza e humaniza a todos.Vão se mostrando  e também à  História do país que  aparece como pano de fundo.E é engraçado ler as notícias pelas cartas e perceber o humor ou o temperamento dos nossos grandes escritores por fora de sua obra.As cartas aqui aparecem como sua "rede social".Uma certa intimidade fica exposta mas de uma maneira agradável.

Texto bom para conhecer os autores além da obra e sentir um pouco da atmosfera do que então era a capital do país.E sim,todos estes nomes(que eu não sei se têm significado para quem é do séc XXI) foram jovens e sim,as circunstâncias da vida (casamentos,parentela,desentendimentos) por mais mesquinhos que sejam,acontecem pra todo mundo.

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